O sucesso da exposição dos 25 quadros de Antonio Parreiras no Solar do Jambeiro, em São Domingos, foi tão grande que os niteroienses vão ter mais uma oportunidade para conferir o evento: a comissão organizadora decidiu mantê-lo até este domingo, 25 de outubro de 1987.

A exposição - comemorativa dos 100 anos de uma individual realizada por Parreiras no então denominado Palacete Bartholdy, onde viveu por 7 anos, reúne obras que, pertencentes a colecionadores particulares e ao Museu Nacional de Belas Artes, nunca estiveram expostas lado a lado.

De segunda a quarta desta semana, as noites foram movimentadas, no Solar: os experts Israel Pedrosa e Quirino Campofiorito foram até lá falar sobre a vida e a obra de Antonio Parreiras. Houve também a projeção do filme As Sertanejas, de Eliseu Visconti, sobre a obra do pintor. O marchand Mauricio Pontual, que comentaria o filme, não compareceu por motivos de saúde.

Inovador

Israel Pedrosa ressaltou o caráter nacionalista da pintura de Parreiras. "A pintura feita no Brasil, naquela época, estava muito presa aos moldes europeus e aos ateliês. Os nomes de destaque naquele momento eram mestres na arte de fazer, mas estavam muito longe de uma alma nacional. E isto, este instinto de nacionalidade - como definiu Machado de Assis -aparece em Parreiras, em sua maneira de sentir. Parreiras debruçou-se sobre o paisagismo quando ninguém pensava em sair dos ateliês e lembre-se do caráter essencialmente rural do Brasil, ainda mais naquela época."

Em 1988, Antonio Parreiras foi para a Europa. Veneza. "Surgiu ali a grande pintura paisagística", conta Pedrosa. "Não foi por acaso que Parreiras ficou ali, e não em Florença, outro grande centro da pintura, que era muito mais voltada para o racional, e não para o sensual."

Segundo Israel Pedrosa, há cerca de dez anos uma pessoa da classe média brasileira teria condições, ainda, de comprar um quadro de Parreiras. Hoje, a situação é outra.

Já se pode notar que existe um mito Antonio Parreiras, que já começa a se distanciar da obra e do artista. Isto caracteriza os grandes homens das artes a obra e o mito ficam guardados pela história. "Parreiras usava os elementos formais como forma de exercitar o espírito", afirma Pedrosa. "E nos grandes gênios a busca formal não vem do intelectual, mas da necessidade de uma maior expressão espiritual".

Já o pintor e crítico de arte Quirino Campofiorito - que conviveu com Parreiras, mantendo laços de amizade - discorreu sobre vários aspectos da vida do artista, de sua figura humana. "Parreiras vivia pelas ruas com um cavalete, pintando. Isto causava espécie, na época as pessoas o viam como uma espécie de andarilho excêntrico", recordou

Quirino lembrou ainda o fato de Parreiras não ter sido apenas um paisagista. "Ele era também um excelente retratista, com uma ênfase na História brasileira; e um ótimo pintor de nus", disse.

Resta apenas uma chance para conferir a exposição de Parreiras, ela termina neste domingo, 25 de outubro. Os ingressos, a CZ$ 100,00, podem ser comprados no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, no Campo de São Bento, das 14 às 18h; na EDUFF, à Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, ou então no Solar do Jambeiro, na Rua Presidente Domiciano, 195, São Domingos, das 10 as 18h.

Pesquisa e edição: Alexandre Porto


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Publicado em 05/05/2025

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