O interventor federal no Estado assinou, a 22 de agosto de 1940, uma deliberação pela qual fica criada, na Biblioteca Universitária, do Serviço de Difusão Cultural, a Coleção Velho de Avellar. Essa coleção constará dos livros deixados pelo dr. Antônio Ribeiro Velho de Avellar e das obras que forem adquiridas, futuramente, com os juros da importância de 30:000$000, legada pelo cidadão Joaquim Ribeiro de Avellar Junior.

Coleção Velho de Avellar

As Bibliotecas aumentam seu acervo, por meio de aquisições ou doações. A Biblioteca Universitária, desde que principiou a funcionar, em 1935, fez grandes aquisições de livros, destinados, quer à secção fixa ou consultante, quer à seção circulante, instalada mais tarde, e cujo movimento cresce dia para dia, tornando-a no gênero, quiçá a mais procurada de todas as instituições similares, aliás raríssimas, no país.

As doações também têm contribuído, embora em grau menor, para o incremento da nossa Biblioteca. A mais importante de todas formou a Coleção Velho de Avelar, do nome do doador. Muito variada, a maioria dos volumes que a constituem são escritos em francês. Modelo muito característico do que os franceses chamam "bibliothéque de chateau", vieram da fazenda Pau Grande, que Saint Hilaire escreve num dos seus volumes, e que até os últimos tempos se conservava tal como a vira o ilustre viajante.

Contém ela as obras completas de Voltaire, em 75 volumes (excetuados os tomos 41 e 42 que infelizmente se haviam extraviado); de Rousseau; Chateabriand; alguma coisa de Buffon, o Dicionário da Fábula...

Segue-se, como era de esperar, a obra de François Guizot; volumes de Jean de Sismondi e Benjamin Constant; os filósofos que precederam a Hippolyte Taine, e que este desancou nos "Philosophes français du XIX siècle" (1857) de que a Coleção tem a edição original, além de outras obras de Taine, em boas edições; Lord Macaulay, volumes de ensaios; a preciosa biografia de Louis Madelin sobre Joseph Fouché, em dois volumes; sobre Napoleão e as duas imperatrizes, Masson e A. Levy, uma biografia de Wellington, em 3 volumes (em inglês); dois bons estudos sobre a Grande Catarina; e muitos outros.

A parte literária também é variada: Walter Scott, quase todo, em francês: grande parte do Dickens, também em francês; autores italianos (Goldoni, Alfieri, etc) e ingleses, no original. “Os Troféus de Heredia", em edição original, com o acréscimo de uma epígrafe, provavelmente da mão do autor. O Livro dos Sonetos, que pertenceu à biblioteca D Pedro II, com anotações à margem, do punho do Imperador; a segunda série da "Legenda dos Séculos", de Hugo, em primeira edição; Vigny, menos a parte póstuma; Bocage, e muitos outros.

Na seção de direito e jurisprudência, destacam-se, além do repertório de Désiré Dalloz, o tratado de Direito Romano, em oito volumes, de Friedrich Savigny e o "Espirito de Direito Romano", de Rudolph Von Jhering. Os velhos tratadistas, portugueses e brasileiros, e os clássicos da economia política, também estão representados nesta seção.

Compreende além disto a Coleção Velho de Avellar uma preciosa seção de Guias e o "Almanaque Gotha", tão útil para consultas. Obras sobre agricultura, também em francês (era o que havia), e sobre outras ciências, puras ou aplicadas, completam tão valioso conjunto.

É de supor-se que com o tempo, muitos dos volumes que constituíam a biblioteca da Fazenda do Pau Grande se foram extraviando. Não se explica de outro modo a omissão notada de certos livros, e mesmo de certos autores, que certamente foram lidos e apreciados pelos sucessivos ocupantes da tradicional fazenda.

Convergiram para essa biblioteca os livros da família Ribeiro de Avellar (Visconde de Ubá), Velho de Avellar (o visconde casara-se com Mariana Velho da Silva) e Muritiba (o 2º Barão de Muritiba que se casou com d. Maria José Velho de Avellar, e acompanhou Pedro II no exílio). O Barão de Muritiba incorporou à biblioteca da fazenda os livros de direito de seu pai, Manoel Vieira Tosta, Marques de Muritiba.

Assim se formou esse precioso acervo livresco que, além do seu valor intrínseco, presta-se a um estudo sobre a influência da cultura francesa no Brasil, no século XIX. Gilberto Freyre, em "Um engenheiro francês no Brasil", demonstrou o interesse dessas pesquisas. Aos elementos que indicou, some se este, mais significativo do que os anúncios de jornal, que só representam eventualidades de aquisição e leitura, ao passo que a biblioteca mostra o que foi comprado, e quase sempre lido.


Fonte: "Biblioteca Universitária em 1943", editado pela Divisão de Difusão Cultural, autarquia vinculada à então secretaria de Educação e Saúde do Estado do Rio

Pesquisa e edição: Alexandre Porto

Antonio Velho Ribeiro de Avelar (1858-1933) foi promotor Público em Paraíba do Sul, deputado estadual e vice-presidente da Província do Rio de Janeiro e prefeito de Vassouras. Um dos mais requintados proprietários da fazenda Pau Grande (hoje pertencente ao município de Paty do Alferes), entre os finais do século XIX e início do XX, formou-se em advocacia no Rio de Janeiro, vindo então trabalhar como Promotor Público em Paraíba do Sul. Alguns anos depois, exerceu os cargos de Juiz de Direito da Comarca de Vassouras e de vereador naquela cidade no período de 24 de dezembro de 1889 a 9 de fevereiro de 1892. Entre 1890 a 1892 ocupou a Presidência da Câmara vassourense, que, naquela época, acumulava a chefia dos poderes legislativos e executivos, voltando a presidi-la entre 1901 e 1903. Político ativo e homem de ilibada reputação moral, Antônio Ribeiro Velho de Avelar foi novamente conduzido ao cargo de Presidente da Câmara na legislatura 1904-1906, sendo posteriormente conduzido às funções de Deputado Estadual e Vice-Presidente da Província do Rio de Janeiro. Antônio Ribeiro Velho de Avelar morreu solteiro em data desconhecida, e seu nome ficou perpetuado em Paty do Alferes graças a uma resolução emitida pela Câmara de Vereadores de Vassouras que, durante as comemorações dos 100 anos da criação da Vila de Paty em 4 de setembro de 1920, determinou que a Praça do Centenário passasse a se chamar Velho de Avelar, espaço hoje fronteiriço ao Centro Cultural daquela cidade.


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Publicado em 13/09/2024

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