A
Cia. Dulcina e Odilon, apresentou-se, a partir de 15 de março de 1956, em pequena temporada que marcou a reinauguração do Theatro no Municipal João Caetano, em Niterói, que passou por reformas que duraram 6 meses. Fizeram parte do repertório as seguintes peças:
"As Árvores Morrem de Pé" de Alejandro Casona, "Chuva" de Somerset Mougan, "Vivendo em Pecado" de Terence Rattigan, "O Homem da Minha Vida" e "O Secretário da Madame".
Nos três atos da obra de
Alejandro Casona, vemos claramente todos os ângulos que o autor quis abordar apesar do grande fundo psicológico da complexidade de seu texto. O espectador sente perfeitamente a mensagem contida em seu enredo. Um neto que havia se rebelado contra sua própria família, não obstante, ter recebido uma educação das melhores e das mais abnegadas revoltara-se contra tudo e contra todos. De nada adiantavam os conselhos de seus avós que tudo faziam para guiá-lo no caminho do bem. Até que um dia, depois de se juntar a péssimos amigos, entrega-se aos vícios e não podendo satisfazê-los começa a apropriar-se indevidamente de determinadas quantias dos avós. Quando surpreendido, ao invés de procurar desculpar-se, atira-se contra o avô, este embora contrariado, esbofeteia-lhe o rosto. Em seguida sai porta à fora, não mais voltando. Dias depois têm conhecimento de que havia tomado um navio, como clandestino, para o Canadá. Vinte anos passam sem que tenham noticias do menino.
O avô e a avó, como era natural, viveram os anos mais angustiantes de suas vidas. No entanto, o avô, de súbito, tem uma ideia. Faria viver novamente o netinho adorado. Começou a mandar cartas para a avozinha como se fosse o neto. E nesta carta dizia o que era de mais belo neste mundo. O ingresso na Faculdade. A formatura. A noiva. O diploma de engenheiro e por fim o casamento. De repente recebe um telegrama anunciando a chegada do neto. Mas, desta vez era o neto verdadeiro, o contraventor, o corrupto, enfim, o fora da lei. A dura realidade se estampa no rosto do avô como se fosse uma máquina destruidora. Se o neto verdadeiro chegasse estaria tudo perdido. Todos os anos de trabalho para manter aquela dose ilusão de nada valeriam. Ai, então, se não existisse uma entidade filantrópica diferente de todas as outras, tudo estaria arruinado. O Diretor desta instituição que tinha como lema fazer a caridade através da arte e da poesia entra em cena. Uma mocinha que havia sido salva e o diretor, começam a passar pelo verdadeiro neto e esposa, prolongando assim por bastante tempo a felicidade da avozinha.
Só não durou mais, porque o neto apareceu e usou um dos golpes mais baixos, contra aquela que tudo fizera por ele. De nada serviram as protelações de todos. "Duzentos mil pesos valem a vida da avozinha", era a condição do crápula, ou então mataria o primeiro que lhe atormentasse o juízo. A avozinha, no entanto, mantem-se inflexível e o expulsa da casa. Nem por isso deixa que os falsos netos, mas, que para ela eram verdadeiros, tenham conhecimento do que se passara. Além disso, eles, dentro de poucas horas estariam "viajando para o Canadá".
No elenco figuram:
Odilon Azevedo, vivendo o diretor, sisudo compenetrado, e o rapazola que voltara da Universidade canadense.
Conchita Moraes, "avó", foi sem dúvida o ponto alto da peça. Soube se conduzir no nível do papel. Vimos nas diversas cenas uma Conchita, doce, meiga, carinhosa, e vimos também a austeridade e o caráter acima de tudo. Difícil será esquecer o diálogo havido entre ela e o neto, onde se misturam o sentimento com o desdém, o perdão com a vingança e o asco de um neto indigno com o amor puro de uma avó que queria perdoar.
Sadi Cabral se manteve na linha do personagem. Fez um avô delicado, amoroso e sóbrio quando preciso. Uma atriz que revelou-se de um grande sentimento de dramaticidade foi
Sonia Moraes Reis, vivendo o difícil papel de Maria Isabel, secundada por
Dary Reis. É digno de nota a participação de uma amadora do "Dramático Fluminense" fazendo uma pequena ponta. Trata-se de
Teresinha Jordão. Demonstrou grande domínio em cena, não titubeando entre veteranos e melhores atores do teatro nacional.
Cireno Tostes viveu realmente Genoveva nada mais podia-se pedir. Temos ainda
Miriam Roth, fazendo a secretária Helena, podia ter sido melhor, um pouco falsa.
Francisco Sariva,
Luiz Piccini e
Luiz Espíndola, interpretando, o Pastor, o Ilusionista e o Caçador respectivamente, apresentaram-se fracos. Principalmente no que se refere a voz. Vozes mal impostadas seguindo-se de falta de expressão.
Os cenários de
Luciano Trigo, estavam condizentes com a linha do texto. E a direção e efeitos de luz de Dulcina concatenaram-se bem com a carpintaria da peça. Observavam-se marcações inteligentes onde traduziam com fidelidade o ambiente burguês.
Como vemos, não podíamos deixar do registrar os belos espetáculos que nos foram apresentados por
Dulcina e Odilon. Que estas pequenas temporadas se repitam muitas vezes, pois o bom teatro deve ser feito em qualquer época e em toda a parte.
Antecedentes
O ator Rodolfo Mayer havia sido oficialmente convidado para a reinauguração do Theatro Municipal de Niterói, entretanto, tendo se atrasado a inauguração de nossa única casa de espetáculos, ele, preso a outros compromissos, não pôde comparecer. A seguir a Dulcina, o Municipal está cedido para a Cia. Internacional de Marionetes "Rosana Pichi".
O ator, diretor e jornalista
Carlos Couto em sua coluna no jornal 'O Fluminense', de 29 de janeiro de 1956, assim comentou a reinauguração do Municipal:
"O diretor artístico do Clube Dramático Fluminense, Waldir Nunes, amador teatral e crítico do "Correio Fluminense," outro dia escreveu artigo sobre um assunto que promete se tornar apaixonante se não for convenientemente resolvido. Uns querem que a inauguração do "Teatro Municipal João Caetano," após a reforma, seja feita por Rodolfo Mayer; outros (entre eles Waldir), com a peça "Mimosa" de Leopoldo Froes, defendida por um scratch de amadores niteroienses, ensaiados por João Pinto.
Estou com Waldir Nunes e com a homenagem a Leopoldo. Principalmente porque, se nos últimos anos não deu cupim no velho teatro, deve-se, exclusivamente, aos amadores. Eles conservaram o ex-Santa Tereza vivo. Os profissionais, pelo fato da casa dar pouca defesa, dificilmente o procuravam.
Logo, a primazia deve ser dos amadores, e, por isso, se deve bater a Comissão que rege os destinos do teatro. Entretanto, para harmonizar as coisas, "Mimosa" pode ser levada à cena como avant-première. E o grande Rodolfo o inaugurará oficialmente, porque o profissionalismo precisa ter garantıdas certas prerrogativas.
Assim, todos ficarão satisfeitos. E não haverá briguinhas que tanto amesquinham a Arte e os artistas."
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