Hoje, 15 de dezembro de 2012, às 19h, será inaugurado o Museu Janete Costa de Arte Popular, homenageando a grande arquiteta pernambucana, que viveu durante muitos anos em Niterói. O novo espaço terá como exposição de abertura "Janete Costa, um olhar", com 140 peças e curadoria do também arquiteto e filho de Janete, Mário Costa Santos. É uma merecida homenagem!


A partir do dia 15 de dezembro de 2012, dois sobrados geminados com fachadas neoclássicas em Niterói, no Rio de Janeiro, vão se transformar em um museu que homenageará a arquiteta pernambucana Janete Costa (1932/2008). Por conta do fascínio que a profissional teve pelo fazer brasileiro, o Museu Janete Costa de Arte Popular será destinado a oficinas e exposições relacionadas à riqueza cultural brasileira. A primeira a inaugurá-lo, intitulada "Janete Costa, um olhar" terá curadoria do filho da arquiteta, Mario Costa Santos. A exposição de abertura fica em cartaz até o mês de março.

No novo espaço cultural municipal, o prefeito Jorge Roberto da Silveira e o secretário municipal de Cultiura, Cláudio Valério Teixeira, receberam nomes como os do acadêmico Marcos Vilaça, o arquiteto Sérgio Rodrigues e o ministro Moreira Franco. Todos elogiaram a obra no Ingá e a museografia da exposição "Janete Costa, um olhar", assinada pelo filho da homenageada, o também arquiteto Mario Costa Santos, e as colegas Denise Niemeyer e Eliane Amarante.

A mostra tem 140 peças de artistas populares, entre outros, Mestre Vitalino, Galdino, Ulisses Pereira Chaves, Manuel Eudócio, Agnaldo Manoel dos Santos, Antonio de Dedé, Artur Pereira e Nicola, de Jaboatão dos Guararapes (PE), que faz esta semana oficina no museu.






Janete Costa, Um Ollhar, por Mario Costa Santos, filho de Janete Costa e curador

Mario Santos e o filho Bernardo. Clique para ampliar
    "Para a inauguração do Museu Janete Costa de Arte Popular, pensei em uma exposição que revelasse uma síntese da arte popular brasileira. A tarefa era difícil, pois eu teria de trabalhar dentro de um extenso universo que expressa toda a riqueza cultural de nosso país. Em cada região do Brasil encontramos tradições, vocações, valores, matéria-prima e características próprias, e os artistas locais espelham e desenham as condições econômicas e culturais dessas regiões.

    Sou filho da Janete, e, como tanta gente, com ela aprendi muito sobre a vida e sobre a arte. Na hora de decidir o que expor na primeira mostra de um museu dedicado a ela, a emoção acabou por comandar o critério de seleção. Escolhi peças de artistas e de mestres com os quais minha mãe tinha relação direta ou indiretamente, tanto nas pesquisas que fez durante sua vida profissional quanto na relação pessoal com a arte e o artesanato populares que teve na infância no lugar onde nasceu, no interior de Pernambuco.

    Além de filho da Janete, sou arquiteto. Mesmo com escritórios separados, sempre fizemos parcerias, trabalhando juntos em vários projetos em segmentos distintos, como, por exemplo, a hotelaria, em que inevitavelmente privilegiávamos a divulgação e a introdução da arte e do artesanato brasileiros, mostrando a importância e a qualidade de nossas raízes, abrindo espaço no mercado para toda uma população de artistas e artesãos, que assim podiam vencer a pobreza e mudar a qualidade de vida de suas comunidades.




    Permitam-me contar uma pequena lembrança do contato da Janete com os artistas e artesãos. Eu adorava viajar com ela. Observava tudo atentamente e aprendia muito. Mais do que escolher e selecionar, ela me ensinou a enxergar a beleza nas coisas e nas pessoas. Tive oportunidade de ir com minha mãe ao interior de Pernambuco, e lá vi como era impressionante o fascinio que ela exercia sobre os artesãos. Nos lugares por onde passávamos, a necessidade era grande, mas a presença dela deixava as pessoas esperançosas. "Dona Janete chegou!", saíam espalhando. E lhe diziam: "A situação não está boa, mas, se a senhora está aqui, vai melhorar".

    E ela fazia o possível para ajudar. Porém, muito sabiamente, mesmo sendo uma superprotetora de todos que precisassem dela, não exercia um paternalismo quando se tratava da arte espontânea do povo. Dizia com franqueza o que achava da obra de um artista. Não interferia jamais na produção nem desviava o olhar do artista para um horizonte além das suas origens. Dava-lhe incentivo para continuar criando, e isso, sim, despertava nele a perspectiva de uma vida melhor e de reconhecimento por sua arte. No caso dos artesãos, limitava-se, às vezes, a sugerir que uma pequena alteração nas dimensões de uma peça ajudaria a vendê-la. E sempre mostrava respeito pelo trabalho.

    Juntos, fizemos várias exposições de arte popular e museografias no Brasil e no exterior, e elaboramos orientações para a produção artesanal visando a preservar a qualidade e ajudando a formar um público consumidor disposto a compreender o fator sociocultural que a obra artesanal carrega. Criamos uma afinidade e uma identidade na forma de expor. A Janete sempre gostou de fazer museus. Nos últimos anos, sonhava em dedicar-se exclusivamente à função de pesquisar e incentivar arte popular.

    Assim, criamos uma equipe especializada em museus dessa natureza juntando os dois escritórios, o meu, do Rio de Janeiro, e o dela, de Recife, com o arquiteto Acácio Borsoi e minha irmã Roberta Borsoi, e juntos, em família, continuamos o trabalho que nossa mãe começou, colaborando na abertura de novos espaços expográficos por todo o país, como o Centro de Arte Popular em Belo Horizonte, cujo projeto desenvolvemos a partir de um esboço feito por ela.

    A maioria das obras aqui expostas faz parte da coleção reunida ao longo de muitos anos por Vilma Eid, proprietária da Galeria Estação, em São Paulo, que faz um trabalho importantíssimo de exposição de arte popular. A Janete fez várias curadorias usando peças da coleção da Vilma, que ela considerava

    uma grande coleção. Além disso, há peças cedidas pelo Museu de História e Artes do Estado do Rio de Janeiro, Coleção Janete Costa, e algumas de minha coleção pessoal, que ganhei de presente de minha mãe. Não tive a pretensão de fazer grandes analogias de ordem cronológica ou regional, nem de materiais. O que busquei foi destacar a qualidade artística e estética comprometida com aspectos socioculturais, com a expressão de valores que fazem jus à riqueza da cultura popular brasileira. O resultado é uma pequena mostra que reúne o referencial cultural brasileiro dentro de um universo de espetaculares artistas que representam a qualidade, o valor e a importância destes que, com suas criações, abrem caminhos para uma imensa mão de obra artesanal. "




    Uma homenagem a Janete

    "Pensei numa exposição em que cada peça, por suas características, fizesse sua própria homenagem a Janete. Seja pela fragilidade expressiva do barro, como no caso de mestre Vitalino retratando cenas do cotidiano da sua região, e no de Dona Isabel com suas bonecas quase sempre vestidas em roupa de festa, em cenas de ternura de mulher e mãe. Seja pela força desbravadora das peças da Ana das Carrancas, pernambucana que, como vários nordestinos em busca de água, fez potes e, ao se encantar com o rio São Francisco, passou a moldar carrancas quase como forma de espantar a seca. E não posso deixar de falar do mestre Galdino, que escrevia uma história para cada peça criada. Um misto de escultor, ceramista e poeta.

    A homenagem se expressa também na simplicidade orgânica natural da madeira esculpida pelo GTO, que talhava a própria história em rodas vivas, repletas de equilíbrio formal entre cheios e vazados, retrato de sua comunidade. Na africanidade das esculturas do Agnaldo, retrato da Bahia em figuras de natureza antropomórficas com influências do outro continente, mas com absoluta originalidade. Está presente na generosidade da jaqueira, que forneceu enormes troncos aos quais o Manoel da Marinheira, talentoso artista que ficou conhecido nacionalmente, deu forma de animais da fauna brasileira e felinos. E na genialidade do Adalton, conhecido ceramista fluminense, que misturou técnicas e materiais dando vida e movimento ao cotidiano do povo com engenhosidade e cor. E, para finalizar de forma inesperada, nas obras de Aurelino dos Santos, o arquiteto de formas, cores e paisagens com referências variadas, pintadas em duas dimensões.

    Um passeio pelo Brasil e sua diversidade, uma explosão criativa exposta num labirinto de obras de arte, onde cada peça surpreende e revela regionalidade, expressando cultura e brasilidade. "






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Publicado em 10/08/2013

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